Lais Thomaz

Professora da UFG é classificada em primeiro lugar em edital de bolsas do CNPq

Conheça a trajetória de Laís Thomaz. Apesar de classificada não haverá recursos para implementação da bolsa

 Por Talita Prudente (PRPG)

De Botucatu (SP) para o mundo, e do mundo para a Universidade Federal de Goiás, Laís Forti Thomaz vivencia o universo acadêmico de forma ativa, enérgica e perspicaz. A pesquisadora de 33 anos é graduada, mestre e doutora em Relações Internacionais e, na UFG, coordena o Programa Politizar e foi coordenadora do Núcleo de Estudos Globais (NEG), da Faculdade de Ciências Sociais (FCS/UFG). A trajetória de Laís envolve participações em organizações nacionais e internacionais, além de muito trabalho e dedicação nas pesquisas sobre a relação do Brasil com governos exteriores. 

Infelizmente, os projetos de Laís foram interrompidos por uma injustiça que vem afetando diversos pesquisadores no Brasil. A cientista foi classificada em primeiro lugar, na categoria de pós-doutorado no exterior (PDE), na área de Ciências Sociais Aplicadas, na chamada de bolsas 16/2020 do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Porém, o financiamento não foi disponibilizado.

A situação da pesquisadora é reflexo do atual cenário da Ciência Brasileira, que encara cortes e descaso por parte do Governo Federal. Após queda de 29% no orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), só 13% dos projetos de pesquisa que preenchiam todos os pré-requisitos dos editais do CNPq de fato receberam. 

Trajetória - Durante a graduação na  Unesp, ela recebeu uma bolsa do Santander Universidades para intercâmbio no ISCTE, em Lisboa. Já na pós-graduação, realizada pelo Programa San Tiago Dantas, foi aluna do Instituto Confúcio-Unesp e viajou para um curso de verão na Universidade de Hubei, na China. No doutorado, Laís desembarcou nos Estados Unidos, como pesquisadora visitante na Georgetown University. Lais também atuou profissionalmente em Washington, pelo escritório da União da Indústria de Cana-de-açúcar (UNICA), e no Think Tank- Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais CSIS. 

Atualmente, Laís Thomaz realiza no Departamento de Estudos Latino- Americanos - ELA, no Programa de Pós-Graduação em Estudos Comparados sobre as Américas- PPGECsA da UNB, uma pesquisa de pós-doutorado voltada ao processo decisório durante as negociações do acordo de comércio entre Canadá, México e Estados Unidos que substituiu o NAFTA.  Já no Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Estudos sobre os Estados Unidos (INCT-INEU), ela analisa a relação entre Brasil e Estados Unidos e a política energética voltada a biocombustíveis. Na mesma linha, a pesquisadora analisa políticas públicas para combustíveis sustentáveis de aviação na Rede Brasileira de Bioquerosene e Hidrocarbonetos Renováveis para Aviação (RBQAV).

Em entrevista ao Jornal UFG, Laís contou sobre as suas experiência com pesquisa, ensino e extensão e argumentou sobre o empecilho que está enfrentando com a bolsa do CNPq.

Recentemente você foi aprovada em uma chamada do CNPq mas o recurso da bolsa não foi disponibilizado. Como ocorreu? 

Fui classificada em primeiro lugar de prioridade na categoria de pós-doutorado no exterior (PDE)na área de Ciências Sociais Aplicadas  na chamada 16/2020 do CNPq. Foram 1026 pedidos de PDE no total.  Incluindo todas as categorias do edital, a área de CS teve 134 projetos enviados. Infelizmente, para CS apenas 4 bolsas foram viabilizadas, sendo três na categoria sênior (ESN) todas destinadas a homens e outra para doutorado sanduíche (SWE). O tema que tinha proposto envolvia um estudo comparado das  políticas de descarbonização nos Estados Unidos e no Brasil, de bastante relevância no cenário atual, no qual nosso país lidera o diálogo com a ONU sobre transição energética. Sem a bolsa do CNPq dificilmente conseguirei realizar a pesquisa de campo proposta, o que inviabiliza parte da pesquisa e compromete seus resultados.

Qual a sua percepção sobre o atual cenário da Ciência no Brasil?

O corte orçamentário geral no CNPq bem como a diminuição na oferta de bolsas em editais que já foram lançados é realmente desanimador para uma pesquisadora. Sabemos que isso faz com que as perspectivas de bolsas no exterior sejam ainda mais atrativas, por isso, é constante a nossa “fuga de cérebros”. O descrédito, o descaso e a falta de reconhecimento do trabalho realizado nas Universidades públicas é inadmissível em qualquer outro lugar do mundo. Nossos governantes devem mudar essa percepção urgente e começar um trabalho de realizar mais incentivos às pesquisas e ao desenvolvimento de ciência e tecnologia para que o país possa um dia ser capaz de superar essa crise. É preciso que todos pressionem os deputados e senadores para que alterem o orçamento e que as verbas necessárias sejam destinadas a nível federal, mas também que os deputados estaduais reconheçam a importância das Fundações de Amparo à Pesquisa e garantam seus recursos. 

Após integrar universidades e organizações nacionais e internacionais, como você veio para a UFG?  

Eu acredito que na vida tudo acontece por uma razão e assim, quando estava no meu primeiro estágio pós-doutoral eu recebi a notícia do concurso para magistério superior no curso de Relações Internacionais. Os temas se aproximavam da minha agenda de pesquisa mais voltada a comércio, negociações e processo decisório e, então, decidi tentar e felizmente fui aprovada. Goiás sempre foi uma estado que eu tinha contato no que tange a política energética, pois é um grande produtor de biocombustíveis e este tema também faz parte de minha agenda de pesquisa.

De que modo você atua em diferentes frentes: pesquisa, ensino e extensão? 

Desde que entrei na UFG fui convidada a trabalhar com extensão e a compor a Coordenação do Politizar, tendo assumido a gestão do projeto em julho de 2018. Desde então ele se tornou um Programa de Extensão com sete projetos com a FCS, FL, FAV, FIC, e dois convênios, com a Assembleia Legislativa do Estado de Goiás e a Câmara Municipal de Goiânia. Temos feito um belo trabalho também de Advocacy com as comunidades tradicionais, tanto no politizar quanto no outro projeto chamado Lobby Social, que temos em convênio com PensarRelgov e Ibmec.

 Em 2020, aprovamos uma lei na questão emergencial da Saúde e também conquistamos dois prêmios, sendo um financiado pela União Europeia, e por essa razão, recebemos a indicação ao Prêmio Consuni-UFG 2020. Recentemente o Politizar também fez uma parceria com o SanRural e estamos realizando, no mês de julho, 43 reuniões com as prefeituras do estado de Goiás para tratar de Políticas de Saneamento Básico nas comunidades rurais. 

Na questão da pesquisa, além dos grupos já mencionados, também faço interlocução com pesquisadores da área de relações governamentais e institucionais no Brasil, tendo a coordenação de um GT dentro da Associação Nacional de Pós-Graduação em Ciências Sociais. Busco sempre estar presente nos eventos e conferências sobre etanol e biocombustíveis e tenho priorizado publicar em parcerias internacionais, tendo publicado na China, Alemanha e Estados Unidos. No curso de relações internacionais, leciono geralmente negociações e análise de processo decisório, laboratório de internacionalização de empresas e gestão de projetos, e metodologia. Busco oferecer disciplinas optativas de advocacy e relações governamentais por ser uma área em ascensão no mercado de trabalho, visando uma melhor inserção profissional de nossos alunos.

 

Fonte: Coordenação de Comunicação

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