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Dissertação defendida no PPGCC/UFG vence prêmio nacional por inovar no uso de IA na detecção de depressão em jovens

Trabalho premiado no SBCAS 2025 cria léxico com expressões culturais brasileiras extraídas de músicas para aprimorar modelos de linguagem na identificação de indícios depressivos em textos online

A dissertação defendida pela egressa do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Computação (PPGCC/UFG), Leidiane Beatriz Passos Rodrigues, intitulada "Detecção de Traços de Depressão em Textos na Língua Portuguesa Considerando Aspectos Culturais e Regionais do Brasil com o Uso de LLMs" foi reconhecida nacionalmente no Simpósio Brasileiro de Computação Aplicada à Saúde (SBCAS 2025).

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Créditos: acervo da pesquisadora.

 

O estudo se destacou por aliar inteligência artificial, linguística e saúde mental de forma inédita e sensível à realidade brasileira. Utilizando modelos de linguagem de larga escala (LLMs) como o GPT-3.4 para analisar publicações no Reddit, o trabalho incorpora um léxico enriquecido com expressões extraídas de letras de MPB, funk, rap e brega. A pesquisa demonstrou que, ao considerar esses elementos do imaginário popular, é possível aumentar a precisão na detecção de mensagens com indícios depressivos — um avanço que pode contribuir diretamente para a criação de ferramentas de apoio a estudantes e profissionais da saúde mental em todo o Brasil. Confira a entrevista na íntegra com a mestra pelo PPGCC a seguir.

  • Como surgiu a ideia de investigar o tema da sua dissertação? O que te motivou?

R: A ideia surgiu em um projeto de iniciação científica que tinha como objetivo construir uma ontologia para reconhecer depressão e tendências suicidas em texto e em caso de depressão, tentar estimar o grau. O projeto foi escrito pela minha professora orientadora, Dra. Deborah Fernandes, que trabalha com análise de sentimentos, uma linha de pesquisa dentro da área da computação e inteligência artificial. A partir disso, e com o avanço das inteligencias artificiais a partir de 2022, mantivemos o objetivo de detectar depressão em texto e estimar o seu grau, mas agora utilizando os grandes modelos de linguagens da inteligência artificial, aliados a linguística e métodos da área da saúde mental.

 

  • Quais foram os principais achados da sua pesquisa e que tipo de impacto eles podem gerar na prática?

R: Os principais achados, foram expressões culturais e regionais do português brasileiro que tem indicativos de depresão quando encontrados em um texto. Esse conjunto de expressões na computação, são chamamos de léxico, e ele pode ser usado por qualquer outro trabalho que tenha o objetivo de identificar traços de depressão em texto. Através disso, por exemplo, é possível monitorar postagens em redes sociais e gerar alertas para que uma pessoa possa procurar ajuda profissional. O nosso objetivo, é desenvolver uma aplicação que, de forma lúdica, possa através de completar trechos de histórias usando esses termos, possamos acompanhar adoslecentes e jovens nas escolas, gerando informações para o professora verificar se é necesário solicitar aos pais ou responsáveis um acompanhamento adequado para o aluno.

 

  • Quais foram os principais desafios durante o desenvolvimento da sua dissertação?

R: Creio que o principal desafio foi interligar as três áreas de domínio do estudo: Computação, Linguística e Saúde Mental. Como a dissertação é da área da computação usar métodos das outras áreas para conseguirmos resultados mais satisfatórios e adequados foi o maior desafio. Outro desafio, foi o de encontrar esses termos com características depressivas no contexto cultural e regional da língua portuguesa brasileira.

 

  • O que te levou a incluir expressões culturais e regionais do Brasil no seu modelo?

R: O trabalho teve como coorientadora a professora Dra. Marilúcia Lago da faculdade de eduação da UFG, ela atua como professora do curso de psicologia. Com o apoio dela, foi levantado a questão de que atualmente é muito difícial para um profissional da área da saúde mental ter uma espécie de “máscara de palavras” com contexto depressivo voltado para o Brasil, quando um profissional precisa fazer esse tipo de análise em texto. A partir desse ponto, foi feita uma revisão bibliográfica para investigar trabalhos na área da computação que abrangesse termos culturais e/ou regionais do Brasil na detecção de depressão em texto. Existem muitos trabalhos para detecção de depressão em texto na língua portuguesa, mas eles não consideram o contexto cultural e regional do brasileiro no que tange a expressão, que o jeito que ele pensa, fala e escreve estão interligados, principalmente quando partimos para o cenário de redes sociais. Então, ter um dicionário de palavras formais no português brasileiro, é possível detectar o sentimento depressivo, mas com o contexto cutural e reginal incorporado é possível detectar muito mais.

 

  • Como foi o processo de construção desse léxico? Em algum momento da pesquisa, alguma expressão cultural que você encontrou te surpreendeu por carregar um peso emocional ou simbólico forte?

R: Para construir o léxico e capturar a cultura e o regionalismo, utilizamos letras de músicas brasileiras, de diversos gêneros musicais, para conseguir extrair essas palavras. Parece não fazer tanto sentido, quando o objetivo são palavras depressivas, e geralmente músicas são alegres, mas no geral elas conseguem trazer essas expressões culturais do Brasil quando a gente ignora o contexto da música, pois elas são poéticas.

Algumas músicas, por si só, já tem um cenário depressivo, quando falamos de alguns raps, funks e MPB conseguimos ver isso. Então, o que mais me chamou atenção foi a expressão “ventilador de teto”, é um trecho que uma música, e quando uma mensagem tinha essa expressão ela tinha o sentindo de suicído, que é o pior cenário no contexto depressivo.

 

  • O que esse prêmio representa para você e para a área de Computação Aplicada à Saúde?

R: Esse prêmio representa, para mim, o reconhecimento de uma trajetória construída com dedicação, resiliência e propósito. É a prova de que acreditar em uma ideia e persistir pode, de fato, gerar impacto real na vida das pessoas. Para a área de Computação Aplicada à Saúde, ele reafirma o potencial transformador da tecnologia quando direcionada a problemas humanos, mostrando que, com sensibilidade e inovação, é possível aproximar ciência e cuidado, algoritmo e empatia.

 

  • Como você enxerga o futuro do uso de IA no cuidado com a saúde mental no Brasil?

R: Vejo um futuro promissor para o uso da inteligência artificial no cuidado com a saúde mental no Brasil. A IA tem um grande potencial para apoiar os profissionais da área da saúde mental, desde o diagnóstico precoce até a personalização dos tratamentos, permitindo um acompanhamento mais próximo e eficaz dos pacientes. Além disso, pode contribuir significativamente para a adesão ao tratamento, fator essencial para a recuperação. Ainda há muitos desafios a enfrentar, mas os avanços já conquistados mostram que estamos no caminho certo. O futuro certamente trará inovações que beneficiarão tanto a sociedade quanto os profissionais e pesquisadores da saúde mental.

Fonte: PRPG UFG

Categorias: Notícias Noticias

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