Mestranda do PPGECM conquista 5º lugar no Prêmio SBPC 2025 com pesquisa sobre trajetórias de cientistas negras
O trabalho premiado destaca a importância de incluir gênero, raça e interseccionalidade no ensino de Química, fortalecendo a presença de meninas e mulheres negras na ciência
Reconhecida na categoria Pesquisa – Ciências Humanas e Sociais Aplicadas do Prêmio SBPC 2025, a mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática, Keythy Ravena Batista Nascimento, celebrou o 5º lugar com o estudo “Estudo sobre trajetórias de cientistas negras e a interseccionalidade em aulas de Química”. O trabalho, desenvolvido em coautoria com Luis Fernando Cardoso dos Prazeres, Gustavo Augusto Assis Faustino e Marysson Jonas Rodrigues Camargo, sob orientação da professora Anna Maria Canavarro Benite, integra as ações do projeto “Investiga Menina!”, voltado à promoção de uma ciência mais plural, afetiva e diversa.
Para Keythy, o reconhecimento pela SBPC simboliza a força da pesquisa feita em rede e com propósito coletivo. Na entrevista a seguir, a pesquisadora fala sobre o significado da premiação, as reflexões trazidas pelo estudo e o papel transformador de uma educação científica comprometida com a equidade.
● O que esse reconhecimento no prêmio SBPC representa para você, pessoal e academicamente?
Esse reconhecimento no prêmio da SBPC representa, pessoalmente, uma grande alegria e um profundo sentimento de gratidão. Ele simboliza não apenas uma conquista individual, mas o resultado de um trabalho coletivo desenvolvido com muita dedicação, diálogo e compromisso dentro do projeto de pesquisa e extensão Investiga Menina! na Universidade Federal de Goiás (UFG). Cada etapa foi construída de forma colaborativa, valorizando as contribuições de todas as pessoas envolvidas e reafirmando o poder da ciência quando é feita em rede, com afeto e propósito comum.
Academicamente, o prêmio reafirma a relevância de iniciativas como o Investiga Menina!, que unem ensino, pesquisa e extensão para promover uma ciência mais acessível, inclusiva e diversa. Ser reconhecida pela SBPC fortalece a importância de projetos que incentivam meninas e mulheres negras na Ciência e que ampliam as vozes e perspectivas dentro do campo científico. Esse reconhecimento, portanto, é um incentivo para seguirmos coletivamente, acreditando que a transformação na educação e na Ciência se faz em conjunto, com escuta, colaboração e compromisso com um futuro mais justo e plural.
● Como nasceu a ideia de investigar as trajetórias de cientistas negras e a interseccionalidade em aulas de Química? Quais foram os principais objetivos e metodologias da pesquisa?
Na cultura há a expressão de uma história única, a construção de uma cultura hegemônica, difundindo e valorizando as produções de conhecimento europeia, masculina e branca. No contexto científico, a cultura constrói uma visão deturpada das Ciências evoca a prática cientifica, como feita apenas por homens, de forma solitária, rígida, infalível e verdadeira. Logo, se constrói e valida quais conceitos são científicos e quais são os sujeitos são capazes de fazer Ciência.
Além disso, observa-se uma menor participação de mulheres negras, sendo frequentemente taxadas como não intelectualmente aptas para o fazer. No ambiente escolar ainda há o reforço de estereótipos do/a cientistas e do fazer científico. O currículo por estar amparado também na cultura, contribui para a reprodução de racismo e sexismo no ensino de Ciências/Química. Assumindo tais pressupostos, desenvolvemos uma pesquisa no âmbito do projeto “Investiga Menina!” que se configura como um projeto de pesquisa e extensão, que se fundamenta na crítica ao apagamento histórico das contribuições de mulheres negras para a Ciência e Tecnologia, reconhecendo a necessidade de práticas pedagógicas que enfrentem as desigualdades estruturais no ensino. Dessa forma, objetiva desenvolver estudos sobre as narrativas e produção de mulheres negras nas Ciências, buscando assim incentivar meninas negras da educação básica a ingressarem nas carreias de Ciências e Tecnológicas. O objetivo deste trabalho foi investigar os conhecimentos e reflexões mobilizadas pelas estudantes sobre a representação do cientista e a cultura científica considerando os aspectos de gênero e raça nas Ciências. O presente trabalho caracterizou com elementos de uma Pesquisa Participante (PP). Assim, uma das finalidades da PP consistiu em auxiliar a população envolvida a identificar por si mesma seus problemas, desenvolvendo senso autocritico e crítico na resolução dos problemas. Portanto, são os sujeitos/as de pesquisa, os mesmo que operacionaliza as mudanças no meio social de sua própria vivência, de forma engajada e emancipatória.
● Quais descobertas ou reflexões mais marcaram o desenvolvimento do estudo?
Os resultados apresentados nesse estudo, demostraram que discutir a partir de uma visão crítica da cultura cientifica e da representação do/a cientista pode funcionar como um contexto de inserção de estudantes a linguagem científica. Dessa forma, ao trazer raça como contexto ao fazer cientifico mostra-se uma estratégia no combate das representações estereotipadas dos/das cientistas no contexto escolar. Ademais, ao refletir sobre a presença das mulheres negras no meio cientifica demostra como o racismo e sexismo excluem sistematicamente mulheres negras do fazer científico. Além disso, demonstram que realizar a apresentação de trajetória de cientistas negras no contexto de aulas de Química pode funcionar como uma estratégia contra hegemônica da cultura científica. De forma a introduzir as estudantes no fazer científico que aproxima da realidade racial vivenciadas por elas. Dessa forma, a abordagem de trajetórias de mulheres negras na Ciência, mobiliza para que as estudantes tenham uma identidade positiva de si mesma. Por fim, aulas de Química com abordagens críticas sobre a presença de mulheres negras pode funcionar como um contexto para o fazer científico, combatendo assim o racismo e sexismo presentes no ambiente escolar e no fazer científico/acadêmico.
● Quais contribuições o estudo traz para a educação e para a formação de professores/as?
A Química, no contexto escolar, ainda é frequentemente apresentada como uma ciência centrada apenas em teorias, equações, modelos e teoremas. Quando se trata das relações de gênero e raça na sociedade, raramente se estabelece um diálogo entre esses temas e o ensino da disciplina. Tanto na formação de professores/as quanto nas práticas de sala de aula, o entrelaçamento entre a Química e as questões raciais e de gênero ainda é pouco abordado. Nesse sentindo, o estudo contribui para a educação ao propor reflexões sobre como aulas de Química pode se tornar um espaço de valorização das identidades, saberes e trajetórias de mulheres negras, rompendo com visões hegemônicas da ciência. Ao discutir gênero, raça e representação no contexto escolar, a pesquisa amplia as possibilidades de construção de uma cultura científica que esteja alinhada com a diversidade racial presente no ambiente escolar. Além disso, evidencia a importância de inserir narrativas de cientistas negras nos conteúdos em aulas de Química, promovendo o reconhecimento das estudantes como sujeitas capazes de produzir conhecimento científico. Para a formação de professores/as, o estudo oferece subsídios reflexivos, mostrando caminhos para práticas que considerem a interseccionalidade e combatam as desigualdades de gênero e raça no ambiente escolar. Assim, contribui para uma educação comprometida com a equidade e com a democratização do acesso à ciência.
Source: PRPG UFG