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Pesquisadora da UFG recebe Prêmio Internacional por avanços em Nanotecnologia Farmacêutica

As descobertas realizadas abrem caminhos para o futuro uso de nanopartículas em doenças pulmonares

A egressa do Doutorado em Rede em Nanotecnologia Farmacêutica, Kamila Bohne Japiassú, recebeu o prêmio de tese 2023 da Academia de Farmácia da França. A conquista é resultado de uma colaboração estratégica entre a Universidade Federal de Goiás (UFG) e a Universidade de Paris Saclay, impulsionada pelo Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior (PDSE) e pelo acordo de cotutela firmado entre as instituições. 

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Foto: arquivo pessoal da pesquisadora Kamila Bohne Japiassú.
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Foto: arquivo pessoal da pesquisadora Kamila Bohne Japiassú.

 

A conquista e o reconhecimento internacional recebido pela pesquisadora demonstra a importância que a universidade e suas pesquisas tem projetado no cenário mundial, com seus projetos e parcerias. A pesquisa, focada em nanopartículas lipídicas, revela potenciais aplicações no tratamento de doenças pulmonares, tendo adquirido ainda mais relevância em meio à pandemia de Covid-19. 

Os estudos desenvolvidos sublinham a importância da internacionalização na UFG, com destaque para o comprometimento em proporcionar oportunidades de mobilidade acadêmica aos seus pesquisadores. A pesquisa de Kamila fortalece os princípios e práticas da universidade como um polo de inovação e excelência em ciências farmacêuticas, posicionando-a assim como uma protagonista na vanguarda da pesquisa científica global, ampliando suas conexões e possibilitando colaborações que reverberam positivamente para o âmbito da pós-graduação e para a formação de profissionais altamente capacitados.

Em entrevista à PRPG, a pesquisadora revela não apenas as contribuições científicas promovidas, mas aborda também o papel que desempenha no Centro de Pesquisa Avançada da L'Oréal em Paris, no qual lidera  projetos clínicos na equipe de Pesquisa Clínica e Biofísica. A conversa reitera a importância da conexão entre pesquisa acadêmica e indústria e destaca não apenas a versatilidade da pesquisadora, mas também como suas descobertas têm o potencial de impactar a sociedade. Confira a entrevista na íntegra a seguir.

  • Como surgiu a oportunidade de realizar o período sanduíche na Universidade de Paris Saclay e como essa experiência influenciou sua pesquisa?

A oportunidade de desenvolver parte da minha tese de doutorado na Paris-Saclay foi viabilizada através da colaboração da minha orientadora, professora Eliana Martins Lima, coordenadora do FarmaTec-UFG  e da Dra. Thais Leite Nascimento (também egressa do FarmaTec e atualmente professora visitante do PPGCF) com o professor Elias Fattal, diretor do Instituto Galien Paris-Saclay e financiada pelo programa de Doutorado Sanduíche no exterior da Capes. Essa colaboração me permitiu trabalhar com alguns dos melhores pesquisadores da área e desenvolver meu conhecimento sobre formulação e caracterização de nanopartículas, bem como sobre biologia molecular e celular. Também pude estudar a biodistribuição e a eficácia das nanopartículas lipídicas desenvolvidas em modelos ex vivo e in vivo de inflamação pulmonar em camundongos.

  • Quais são as principais descobertas ou contribuições da sua pesquisa?

A primeira parte da tese sobre lipossomas para o direcionamento de células foi publicada no Journal of Control Release (DOI: 10.1016/j.jconrel.2022.10.006) - (fator de impacto 11,46), enquanto um segundo estudo sobre a eficácia anti-inflamatória dessas nanopartículas lipidicas foi publicado no International Journal of Pharmaceutics (DOI: 10.1016/j.ijpharm.2023.122946) - (fator de impacto 6,51). Além da colaboração entre França e Brasil, a tese também me permitiu coparticipar de outros trabalhos sobre modificação de superfície e reconhecimento celular com laboratórios internacionais, como equipes na Itália e na Espanha, com as quais também publiquei dois artigos no International Journal of Molecular Sciences (DOI:10.1111/bph.15898) - (fator de impacto 6,21) e no British Journal of Pharmacology (DOI:10.3390/ijms22147743) - (fator de impacto 9,47).

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Foto: arquivo pessoal da pesquisadora Kamila Bohne Japiassú.
  • De que forma os estudos desenvolvidos podem impactar a indústria e a prática clínica?

O trabalho desenvolvido é interdisciplinar e na fronteira entre a nanotecnologia farmacêutica e a biologia. Durante a tese procurei entender o impacto da química da superfície dos lipossomas em seu destino após a administração pulmonar. Como resultado, meu trabalho oferece alguns caminhos muito interessantes para melhorar a biodistribuição de nanopartículas nos pulmões e o direcionamento específico de macrófagos alveolares, aspectos fundamentais para o possível uso futuro de nanopartículas em doenças pulmonares.

  • Qual a importância do reconhecimento da Academia de Farmácia da França com o Prêmio de Tese 2023 para sua pesquisa e para a pós-graduação da UFG de forma geral?

O reconhecimento internacional aumenta a visibilidade da pesquisa iniciada na UFG e abre portas para diversas oportunidades futuras. Além de facilitar na construção de redes e parcerias com pesquisadores e profissionais de todo o mundo, as colaborações internacionais podem levar a projetos de pesquisa mais abrangentes, compartilhamento de conhecimento e acesso a recursos que podem não estar disponíveis em um contexto nacional.

  • Quais foram os principais desafios e aprendizados vivenciados durante a elaboração da pesquisa?

Sem dúvidas foi enfrentar a pandemia longe do Brasil, com o período de maiores restrições tendo iniciado apenas 5 meses após minha chegada em Paris. A França fez um confinamento severo de quase 2 meses e isso impactou diretamente na realização dos experimentos da tese.   Como aprendizado ficou sobretudo a melhora na capacidade de adaptação a desafios e mudanças, e ainda tivemos que submeter um pedido de prorrogação de estadia à Capes para que fosse possível a finalização dos experimentos in vivo na França. 

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Foto: arquivo pessoal da pesquisadora Kamila Bohne Japiassú.

 

  • Como essa experiência internacional contribuiu para o desenvolvimento da sua carreira e pesquisa?

A experiência internacional contribuiu significativamente para o desenvolvimento da minha carreira e pesquisa de várias maneiras. As colaborações internacionais trouxeram novas perspectivas para a pesquisa e proporcionaram acesso a recursos específicos, o que acelerou o progresso do trabalho. Sem contar com a promoção da experiência multicultural e o desenvolvimento de competências linguísticas.

  • Quais são as expectativas futuras para a pesquisa desenvolvida? Em que medida sua pesquisa em nanotecnologia farmacêutica tem o potencial de impactar positivamente a sociedade?

Durante a tese criamos um modelo murino de inflamação pulmonar e sua análise por citometria de fluxo e transcriptômica, o que nos permitiu fazer uma avaliação detalhada do destino dos lipossomas in vivo. O modelo e as técnicas desenvolvidas agora estão sendo usados por outros alunos em projetos relacionados. Ainda, foram produzidas 4 publicações científicas, todas em jornais extremamente relevantes para o domínio das ciências farmacêuticas. Isso sem dúvidas leva a continuidade da pesquisa com os lipossomas desenvolvidos não só utilizando a dexametasona como também outras moléculas ativas na prevenção ou tratamento de outras doenças. É importante destacar que a inovação em formulações para administração pulmonar ganhou mais relevância e destaque em função da Covid19, e esta via de administração, assim como formulações desenvolvidas para esta finalidade tem sido objeto de estudos aprofundados do grupo de pesquisa da Profa. Eliana Lima na UFG e muitos resultados impactantes estão sendo produzidos.

 

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Foto: arquivo pessoal da pesquisadora Kamila Bohne Japiassú.
  • Pode compartilhar um pouco sobre sua função no Centro de Pesquisa Avançada da L'Oréal em Paris?

Como parte integrante da Divisão de Pesquisa e Inovação do Grupo L'Oréal, a missão da Pesquisa Avançada (RAV) é aproveitar os principais conhecimentos científicos sobre pele e cabelo (Descoberta) e desenvolver novas matérias-primas, moléculas ou ingredientes ativos (Invenções) para a beleza do futuro. Na RAV, faço parte da equipe de Pesquisa Clínica e Biofísica e, como   chefe de projetos clínicos, tenho a missão de coordenar e conduzir estudos clínicos de conhecimento e prova de conceito para a avaliação de novas moléculas ativas. Minha formação na UFG, da graduação em Farmácia ao Doutorado em Nanotecnologia Farmacêutica é a maior parte da minha bagagem e capacitação para o desempenho de minhas atividades em um centro de pesquisa avançado de uma das maiores empresas do mundo e a maior do ramo de skin care.

  • De que maneira sua formação em nanotecnologia farmacêutica se alinha com as atividades desenvolvidas na L'Oréal?

A formação em nanotecnologia farmacêutica pode agregar uma perspectiva inovadora e técnica ao papel de chefe de projetos clínicos na indústria. Isso porque a nanotecnologia envolve frequentemente colaborações entre profissionais de diversas áreas, como química, biologia e engenharia, o que auxilia na gestão de equipes multidisciplinares dentro e fora da indústria, além de contribuir para uma compreensão mais aprofundada dos aspectos clínicos relacionados à segurança e eficácia de produtos.

 

Fonte: PRPG UFG

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