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Professor da Pós UFG é um dos integrantes da equipe reconhecida internacionalmente pelo desenvolvimento da Vacina Calixcola

A vacina contra dependência de cocaína é resultado da parceria com a UFMG

A pós-graduação na Universidade Federal de Goiás alcançou mais uma vez um marco inédito para a pesquisa e o reconhecimento científico. A conquista trata-se da primeira síntese total dos imunógenos baseados em calixarenos e cocaína. A equipe tem como integrante o professor do Programa de Pós-Graduação em Química da UFG e Pró-Reitor de Pós-Graduação, Felipe Terra Martins e demais pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Os pesquisadores publicaram o artigo “Calix[n]arene-based immunogens: A new non-proteic strategy for anti-cocaine vaccine” no renomado periódico internacional Journal of Advanced Research, e foram contemplados pelo importante e destacado “Prêmio Euro Inovação na Saúde”, oferecido pela companhia farmacêutica Eurofarma, que tem por finalidade reconhecer e oferecer incentivo na busca por soluções em produtos, serviços e ações inovadoras para melhorar a qualidade de vida e o bem-estar das pessoas.

Vencedores da categoria inovação tecnológica aplicada à saúde na maior premiação focada em projetos inovadores do setor farmacêutico, conquistando uma premiação de 500 mil euros, a equipe de pesquisadores tem como objetivo o desenvolvimento da vacina Calixcoca, ainda em fase de testes. A ideia é que o medicamento atue induzindo o sistema imunológico a produzir anticorpos contra a cocaína, estimulando o organismo a reconhecê-la como uma substância externa, um agente agressor.

A contribuição do professor Felipe para o avanço do estudo se baseia na cristalografia, uma técnica experimental que não se relaciona apenas com o estudo externo habitual dos cristais, mas também identifica, em nível atômico, quais são os átomos que compõem essas moléculas que estão arranjadas no estado sólido. Segundo o pesquisador, o desenho molecular de um calixareno é similar ao de uma coroa. Em cima e embaixo dessa coroa, é possível ligar quimicamente, covalentemente outras moléculas que vão determinar a nova funcionalidade da nova configuração molecular. O professor Felipe reiterou a potencialidade dessas substâncias que têm sido estudadas de forma ampla. Confira abaixo, a entrevista na íntegra e as contribuições desse importante estudo.

  • Como surgiu a ideia de desenvolver a vacina e qual é a inovação que ela traz?

Parcerias foram iniciadas em 2013, com pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal de Viçosa (UFV) e Universidade Federal de Alagoas (UFAL), por meio do Programa Nacional de Cooperação Acadêmica (PROCAD) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), num projeto do professor Ângelo de Fátima, do Departamento de Química, da Federal de Minas, com foco nos estudos químicos da Calixcoca.

Os calixarenos têm sido estudados amplamente para várias funções, uma vez que grupos moleculares podem ser adicionados nas coroas superiores e inferiores, nas extremidades superiores e acima deles. A partir daí surgiu a ideia e inovação de fazer uma molécula maior, sintetizar uma molécula maior que pudesse ter a capacidade de estimular o sistema imunológico para reconhecer a cocaína como um agressor, uma substância externa ao nosso organismo.

  • Quais são as técnicas e métodos utilizados para desenvolvimento da fase inicial da vacina?

Basicamente através de técnicas de síntese orgânica, caracterização e avaliação da propriedade. Primeiramente sintetiza-se os calixarenos, através de reações químicas bem estabelecidas e conhecidas, faz-se a funcionalização com cocaína, seguida por técnicas de purificação e caracterização. Nesta última, entra minha contribuição com a cristalografia, por difração de raio X em monocristal, e outras técnicas, entre elas a espectrometria de massas, que permitem identificar a massa molecular daquela macromolécula sintetizada final, que seria então a vacina.

  • Quais são as etapas envolvidas no desenvolvimento da vacina?

Etapas de síntese, caracterização e avaliação. Dentro da síntese tem-se primeiro a síntese do calixareno, depois a funcionalização, seguido da purificação e caracterização. Já a avaliação da propriedade é a indução em ratos da resposta imunológica, introduzindo a vacina no rato e verificando a produção de anticorpos específicos contra ela e a ligação do anticorpo com a cocaína injetada no sangue para ver se, de fato, forma-se a ligação do complexo antígeno-anticorpo e consequentemente a não percepção dos efeitos deletérios da cocaína. Outra etapa é análise toxicológica, já feita e que avalia a segurança da vacina. A próxima compreende a avaliação em humanos.

  • Como a vacina funciona?

Ela funciona induzindo o sistema imunológico, mostrando e expondo através de uma base molecular grande, que a cocaína é uma substância externa ao nosso organismo e que deve ser produzido anticorpos para poder se ligar a ela e extraí-la do sangue. Desse modo, o organismo produz anticorpos contra a cocaína e uma vez que a cocaína for ingerida por um usuário, ela não vai ligar aos receptores e sim vai ser extraída pela ligação com esse anticorpo. A imagem abaixo mostra o antígeno proposto V8N2, baseado em calixarenos e descritos em artigo publicado no Journal of Advanced Research (2022), p.285-298.

V8N2

  • Quais foram os principais desafios enfrentados pela equipe ao longo do processo de desenvolvimento da vacina?

O principal desafio foi alcançar a etapa química de síntese, da estrutura molecular esperada. Chegar na estrutura sintetizada, purificada, caracterizada foi realmente algo muito laborioso, que é o grande diferencial. Depois, os testes de indução imunológica e avaliação da toxicidade já compreendem testes mais consolidados.

  • Como o reconhecimento internacional com o “Prêmio Euro Inovação na Saúde”, impactou o projeto e quais são as expectativas para o futuro da pesquisa?

O “Prêmio Euro Inovação na Saúde”, além do reconhecimento, traz o destaque de mostrar o potencial para ser um insumo farmacêutico ativo e contribuir para acabar com o consumo e a dependência. Com certeza ele vem abrir oportunidades de financiamento para próxima etapa que seria a avaliação em humanos, seguido da produção em larga escala.

  • Quais são os potenciais benefícios sociais e de saúde pública que a vacina pode oferecer futuramente?

O benefício é acabar com a dependência. Isso mostra a importância da ciência e como ela pode ter um impacto real na vida das pessoas e na sociedade por dirimir um problema de saúde pública e de segurança pública. Vai abrir também novas perspectivas, possivelmente, incentivar o desenvolvimento de outras vacinas contra outras drogas, na mesma linha. Isso pode ser conduzido não só na pós-graduação da UFG, mas na pós-graduação nacional e mundial, uma vez que é uma pesquisa de ponta. O reconhecimento recebido pelo “Prêmio Euro Inovação na Saúde” também traz grande importância e contribuições nesse processo.

Source: PRPG UFG

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